Conheça os Mórmons

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quinta-feira, 13 de maio de 2010

Revelação

Élder Dallin H. Oaks
Do Quórum dos Doze Apóstolos


A revelação é a comunicação de Deus aos homens. Pode ocorrer de muitas maneiras diferentes. Alguns profetas, como Moisés e Joseph Smith, falaram com Deus face a face. Certas pessoas se comunicaram com anjos. 
Outras revelações têm vindo, como descreveu o élder James E. Talmage, “por meio dos sonhos ao dormir, ou em visões da mente de quem estava acordado.”




Nas suas formas mais conhecidas, a revelação, ou inspiração, vêm por meio de palavras ou pensamentos comunicados à mente (vide D&C 8:2-3; Enos 1:10), por ilucidação repentina (vide D&C 6:14-15), através de sentimentos positivos ou negativos sobre uma ação proposta, e até através de desempenhos inspiradores como das belas artes. O Presidente Boyd K. Packer disse: “A inspiração nos vem mais por sentimento do que por audição.”


Supondo que os irmãos já conhecem as várias formas de revelação ou inspiração, resolvi discutir o assunto em termos de uma diferente classificação, o propósito da comunicação divina. Pude identificar oito propósitos diferentes provindos da comunicação de Deus: 
(1) para testificar, 
(2) para profetizar, 
(3) para consolar, 
(4) para elevar, 
(5) para informar, 
(6) para restringir, 
(7) para confirmar e 
(8) para impelir. 
Desecreverei cada um nesta mesma ordem, dando exemplos.


Meu objetivo em sugerir esta classificação e em dar estes exemplos é o de persuadir cada um dos irmãos a refletir acerca de suas próprias experiências e a concluir que já recebeu revelações e que pode receber mais inspiração porque a comunicação de Deus aos homens e às mulheres é uma realidade. O Presidente Lorenzo Snow declarou que é um “grande privilégio todos os Santos dos últimos Dias. . . recebermos manifestações do espírito todos os dias de nosso vida.


O Presidente Harold B. Lee ensinou que ''todo ser tem o privilégio de exercer estes dons e prerrogativas ao conduzir suas atividades, ao criar seus filhos do jeito que se deve, ao dirigir sua empresa ou ao fazer qualquer outra atividade. é seu direito receber o espírito de revelação e de inspiração para fazer o que é certo e para ser sábio, prudente, justo e bom e tudo que fizer.”
Ao revisar os seguintes oito propósitos da revelação, espero que os irmãos reconheçam quanta revelação e inspiração já receberam e resolvam a cultivar este dom espiritual a fim de ultilizarem-no com mais freqüência no futuro''.


1. O Espírito Santo testifica, ou revela, que Jesus é o Cristo e que o evangelho é verdadeiro.


Quando o Apóstolo Pedro afirmou que Jesus Cristo era o Filho do Deus vivo, o Salvador o chamou bem-aventurado, “pois to não revelou a carne e o sangue, mas Meu Pai, que está nos céus” (Mateus 16:17). Esta revelação preciosa pode fazer parte da experiência pessoal de todo aquele que procura a verdade. Depois de recebida esta revelação se torna uma estrela polar para guiá-lo em todas as atividades da vida.


2. A profecia é outro motivo ou função da revelação.


Ao falar sob a influência do Espírito Santo, e dentro dos limites de sua responsabilidade, uma pessoa pode ser inspirada a predizer o que passará no futuro.
Quem ocupa o cargo de profeta, vidente e revelador profetiza para a Igreja, como foi o caso quando Joseph Smith profetizou a respeito da Guerra Civil (vide D&C 87) e predisse que os Santos seriam um povo poderoso nas Montanhas Rochosas. A profecia faz parte do chamado de um patriarca. Cada um de nós também tem, de tempos em tempos, o privilégio de receber a revelação profética, iluminando os eventos que nos sucederão no futuro, tal como um chamado na Igreja que vamos receber. Para citar outro exemplo, depois do nascimento do nosso quinto filho, minha esposa e eu passamos um tempo sem ter mais filhos. Depois de mais de dez anos, aflitos, concluímos que nossa família não ia mais aumentar. Mas um dia quando minha esposa estava no templo, o Espírito sussurrou que ela ia ter outro filho. Aquela revelação profética se cumpriu mais ou menos um anos e meio depois quando nasceu nosso sexto filho pelo qual havíamos esperado treze anos.


3. O terceiro propósito da revelação é o de dar consolo.


Tal revelaão veio ao Profeta Joseph Smith no cárcere de Liberty. Após muitos meses em condições deploráveis, sozinho e agonizado ele clamou, rogando ao Senhor que se lembrasse dele e dos santos perseguidos. Chegou a resposta consoladora:


“Meu Filho, paz seja com tua alma; tua adversidade e tuas aflições não durarão mais que um momento; e então, se as suportares bem, Deus te exaltará no alto; triunfarás sobre todos os teus inimigos” (D&C 121:7-8).


Naquela mesma revelação o Senhor declarou que não importava quantas injustiças e tragédias sucedessem ao profeta, “Sabe, meu filho, que todas essas coisas te servirão de experiência e seráo para o teu bem” (D&C 122:7).


Cada um de nós sabe de outros exemplos de revelação consoladora. Alguns já foram consolados por visões de entes queridos falecidos ou por sentir sua presença por perto. A viúva de um bom amigo meu me disse que sentia a presença de seu marido desaparecido, dando-lhe a certeza de seu amor e anseio por ela. Outros receberam conforto em adaptar-se à perda de emprego, a perda de um negócio comercial ou até de seu casamento. Uma revelação de consolo pode também ser vinculada a uma bênção sacerdotal, ou pelas palavras da bênçao ou simplesmente pelo sentimento comunicado durante a bênção.


Outra espécie de consolo é a segurança que se recebe quando o Senhor perdoa um pecado. Depois de orar fervorosamente por um dia e uma noite inteiros, um profeta do Livro de Mórmon registrou que ouviu uma voz que disse: “Perdoados são os teus pecados e serás abençoado.


“Portanto,” Enos escreveu, “minha culpa foi apagada” (vide Enos 1:5-6; vide também D&C 61:2). Esta certeza que vem quando a pessoa completa os passos do arrependimento dá segurança de que o preço se pagou, que Deus ouviu o pecador penetente, e que seus pecados foram perdoados. Alma descreveu aquele momento como a hora em que “já não foi atormentado pela lembrança de seus pecados. “E oh, que alegria e que luz maravilhosa contemplei! Sim, minha alma encheu-se de tanta alegria. . . . nada pode haver tão belo e doce como o foi a minha alegria” (Alma 36:19-21).


4. Semelhante ao sentimento de consolo é o quarto propósito ou função de revelação, o de elevação espiritual.


Às vezes, na vida, cada um de nós precisa ser elevado da depressão, de sentimentos de incerteza ou de inadequação, ou simplesmente de estar parado num nível de mediocridade espiritual. Acredito que a revelação espiritual proveniente da leitura das escrituras ou de usufruir música saudável, arte ou literatura é um propósito distinto da revelação, já que elevam nosso espírito e nos ajudam a resistir o mal e procurar o bem.


5. O quinto propósito da revelação é o de informar.


Pode-se consistir em uma pessoa receber, por inspiração, as palavras certas para ocasiões específicas, como na bênção pronunciada por um patriarca ou em sermões ou outras ocasiões quando se fala sob a influência do Espírito Santo. O Senhor mandou que Joseph Smith e Sidney Rigdon levantassem a voz e falassem os pensamentos colocados em seu coração, “pois naquela mesma hora, sim, naquele mesmo momento, ser-vos-á dado o que dizer” (D&C 100:5-6; vide também D&C 84:85; D&C 124:97).


Em certas ocasiões sagradas, informações foram transmitidas em conversação face a face com personagens celestiais, como nas visões que se encontram nas escrituras antigas e modernas. Em outras circunstâncias, informações importantes são comunicadas pelos sussurros calmos do Espírito. Uma criança perde uma coisa de grande valor sentimental, pede ajuda através de oração e recebe inspiração para achá-la; um adulto encontra um problema no serviço, em casa ou na pesquisa genealógica, ora a respeito e é guiado às informações necessárias para resolvê-lo; um líder da Igreja ora para saber quem é que o Senhor quer que ele chame para tal cargo e o Espírito sussurra o nome. Em todos estes exemplos-conhecidos por todos nós-o Espírito Santo atua no seu ofício de professor e revelador, transmitindo informações e verdades para a edificação e orientação dos que as recebem.
A revelação divina serve para cumprir todos estes cinco propósitos: testemunho, profecia, consolo, elevação espiritual e informações. Falei brevemente a respeito deles, dando exemplos, principalmente das escrituras. Falarei agora em maiores detalhes dos três propósitos de revelação que restam, dando exemplos de minha própria experiência.


6. O sexto tipo ou propósito de revelação é o de nos restringir de fazer certas coisas.


Assim, no meio de um grande sermão em que se explica o poder do Espírito Santo, de repente Néfi declara: “E agora eu . . . não posso dizer mais; o Espírito encerra a minha fala” (2 Nephi 32:7). A revelação que refreia é umas das formas mais comuns de revelação. Muitas vezes vem de surpresa quando não tínhamos pedido revelação ou orientação acerca de certo assunto. Mas, se estamos guardando os mandamentos de Deus e vivendo em harmonia com o Espírito, a força refreadora nos desviará das coisas que não devíamos fazer.
Uma das minhas primeiras experiências de ser restringido pelo Espírito me aconteceu logo após o meu chamado de conselheiro numa presidência de estaca em Chicago. Numa das primeiras reuniões de presidência da estaca nosso presidente de estaca apresentou uma proposta de construir a nova sede da estaca em certo local. De imediato pensei em quatro ou cinco motivos para não construir naquele lugar. Quando ele pediu meus conselhos, opus a proposta, explicando o porquê. O president da estaca sabiamente surgeriu que cada um de nós orássemos a respeito do assunto por uma semana e o discutíssemos na próxima reunião. Quase sem prestar atenção orei sobre o assunto e de imediato recebi uma impressão fortíssima de que eu estava errado, que estava impedindo a vontade do Senhor e que não devia mais opor a proposta. é escusado dizer que fui restringido e logo aprovei a proposta de construção da sede. A propósito, a sabedoria de construir a sede da estaca naquele lugar logo se tornou evidente, até para mim. Meus argumentos ao contrário foram míopes e logo fiquei grato que fui refreado de depender deles.


Alguns anos atrás peguei a caneta da escrivaninha no meu escritório na Universidade Brigham Young (BYU) para assinar um documento que tinha sido preparado para eu firmar, algo que eu fazia pelo menos uma dúzia de vezes ao dia. Aquele documento iria obrigar a universidade a seguir uma série de compromissos em que havíamos concordado. Todo o trabalho complementar dos meus assessores tinha sido completadod e tudo parecia estar em ordem.Porém quando fui firmá-lo, enchi-me de pensamentos negativos e mau agouro de tal modo que o deixei de lado e pedi que o assunto fosse revisado. Assim fizemos e dentro de poucos dias revelaram-se mais fatos que mostraram que o acordo proposto teria causado sérios problemas para a universidade no futuro.


Outra vez o Espírito veio ajudar-me quando eu redigia um livro de casos legais. Um livro de casos consiste em centenas de decisões jurídicas, mais as anotações e textos escritos pelo redator. Meu assessor e eu havíamos completado quase todo o livro, inclusive pesquisas necessárias para verificar que as decisões ainda estavam em vigor. Pouco tempo antes de mandar o livro à editora, quando eu folheava o manuscrito, um dos veredictos judiciários me chamou atenção. Ao contemplá-lo tive uma sensação de inquietação profunda. Pedi ao assessor para verificar a decisão e ver se tudo estava em ordem. Ele respondeu que sim, mas em outra revisão do manuscrito inteiro, outra vez fui parar de novo naquele mesmo caso e senti grande inquietação. Desta vez eu mesmo fui à biblioteca de direito e lá descobri entre umas publicações recém chegadas que o caso havia sido anulado por apelo. Se aquele caso tivesse sido publicado no livro de casos, eu teria passado vergonha entre os colegas profissionais. Fui salvo pelo poder refreador da revelação.


7. Uma forma comum de buscar revelação é a de propor uma solução e então orar para receber inspiração para confirmá-la.


O Senhor explicou este tipo de revelação confirmante quando Oliver Cowdery fracassou na sua tentative de traduzir o Livro de Mórmon. “Eis que não compreendeste; supuseste que eu concederia a ti, quando nada fizeste a não ser pedir-me.


“Mas eis que eu te digo que deves estudá-lo bem em tua mente; depois me deves perguntar se está certo e, se estiver certo, farei arder dentro de ti o peito; portanto sentirás que está certo” (D&C 9:7-8).


De modo semelhante o profeta Alma compara a palavra de Deus a uma semente e diz às pessoas que estudam o evangelho que se cederem lugar para plantar a semente no coração, ela dilatar-lhes-á a alma e iluminará seu entendimento e se tornará deliciosa para eles (vide Alma 32). Aquela sensação é a revelação confirmante do Espírito Santo da veracidade da palavra.
Ao discursar na BYU uns anos atrás sobre o assunto de “Arbítrio ou Inspiração,” O élder Bruce R. McConkie enfatizou nossa responsabilidade de fazer tudo dentro de nosso poder antes de buscar a revelação. Ele citou um exemplo muito pessoal. Quando ele começou a escolher sua esposa eterna, não perguntou ao Senhor com quem deveria casar-se. “Saí e achei a moça que queria,” disse ele. “Ela me agradou; . . . me parecia . . . como se assim devesse ser. . . . [Então] só orei ao Senhor e pedi orientação e direção referentes à decisão que fiz.”
O élder McConkie resumiu seus conselhos quanto ao equilíbrio entre arbítrio e inspiração da seguinte maneira: “Espera-se que usemos os dons, talentos, capacidades e o senso de juízo e arbítrio com que fomos dotados. . . . Subentende-se que antes de pedir com fé, é-nos exigido fazer tudo que pudermos por-nós mesmos para alcançar a meta que buscamos. . . . Devemos fazer tudo que pudermos e então buscar uma resposta do Senhor um selo confirmador de que chegamos à conclusão certa.”


Como representante regional tive o privilégio de trabalhar com quatro membros diferentes do Quórum dos Doze e com outras autoridades gerais ao procurarmos revelação no chamado de presidentes de estaca. Todos eles procediam da mesma maneira. Entrevistavam certas pessoas residentes da estaca-conselheiros da presidência da estaca, membros do sumo conselho, bispos e outros que adquiriram experiência especial na área de administração da Igreja-fazendo-lhes perguntas e ouvindo seus conselhos. à medida que se faziam as entrevistas, os servos do Senhor oravam e consideravam cada pessoa entrevistada e mencionada. Finalmente, chegavam a uma conclusão preliminar quanto ao novo presidente de estaca. Por fim levavam a proposta ao Senhor em oração. Se a decisão era confirmada, se fazia o chamado. Se não, ou se era restringida, a proposta era posta de lado e se continuava o processo até chegar a uma nova proposta e até receber a confirmação da revelação,às vezes as revelações confirmantes e restritivas ocorrem juntas. Por exemplo, durante a gestão na BYU fui convidado para dar um discurso perante uma associação nacional de advogados. Já que iria levar muitos dias para prepará-lo, este era o tipo de convite que eu geralmente negava. Mas ao escrever a carta de recusa, senti-me restringido. Pausei e reconsiderei o convite nestas condições e senti a segurança confirmante do Espírito e então sabia o que devia fazer.
O discurso resultante, “Uma Universidade Privada Encara o Regulamento Governamental,” abriu as portas para um monte de oportunidades importantes. Fui convidado para repetir o mesmo discurso perante outros grupos nacionais proeminentes. Até foi publicado em Vital Speeches [Discursos Vitais], uma revista professional, e em outros periódicos e livros e se tornou uma declaração de vanguarda no que se diz respeito ao interesse de universidades privadas de se livrarem de regulamento do governo. Também incentivou muitos grupos religiosos a consultarem com a BYU a respeito da relação apropriada entre o governo e as faculdades vinculadas a igrejas. Estas consultas resultaram na formação de uma organização nacional de faculdades e universidades religiosas que se tornou uma aliança significativa para opor a regulamentação ilegal e indevida do governo. Não tenho nenhuma dúvida, ao refletir neste evento, que aquele convite que quase recusei foi um daqueles eventos quando uma coisa que parece insignificante faz uma grande diferença para o bem.


Em ocasiões deste tipo convem receber a orientação do Senhor e nestas horas a revelação nos virá para ajudar-nos, se ouvirmos e obedecermos.


8. O oitavo propósito ou tipo de revelação consiste no Espírito impelir a pessoa a agir.


Este não se trata de um caso em que se propõe certa ação e o Espírito ou confirma ou restringe. é um caso em que vem a revelação sem ser pedida e esta revelação nos impele a fazer algo não contemplado. Este tipo de revelação, naturalmente, é menos comum que os outros tipos, mas sua raridade a faz mais expressiva.


Um exemplo disso está registrado no primeiro livro de Néfi. Antes que Néfi obtivesse os registros preciosos da tesouraria em Jerusalém, o Espírito do Senhor o mandou matar Labão quando este jazia bébado na rua. Este ato estava tão longe do coração de Néfi que ele recuou e lutou com o Espírito, mas foi ordenado de novo a matar Labão e acabou seguindo a revelação (vide 1 Néfi 4).


Quem estuda a história da Igreja se lembrará do relato de Wilford Woodruff de uma inspiração que lhe veio de noite, dizendo-lhe que afastasse a carruagem e as mulas de uma grande árvore. Ele o fez e junto com a família e os animais foi salvo quando trinta minutes mais tarde a árvore caiu por terra devido a um tornado que passou por perto.
Quando mocinha, minha avó, Chastity Olsen Harris teve uma experiência semelhante. Ela estava de babá, cuidando de umas crianças que brincavam no leito de um rio seco perto de sua casa em Castle Dale, Estado de Utah. De repente ela ouviu uma voz que a chamou pelo nome e ordenou-a a retirarem as crianças do leito do rio e subirem para a beira. Estava um dia de sol e não havia nenum sinal de chuva. Ela não via razão alguma de obedecer à voz e continuou a brincar. A voz falou-lhe outra vez com urgência.. Desta vez ela obedeceu à advertência. De súbito reuniu as crianças e correu à beira do rio temporário. Justamente no momento que chegaram à beira, uma onda enorme de água oriunda de uma chuvarada nas montanhas distantes, desceu o canyon e passou com força por onde as crianças haviam brincado. Se não fosse esta revelação impelente, ela e as crianças teriam sido perdidas.
Durante nove anos o Professor Marvin Hill e eu colaboramos no livro Carthage Conspiracy [Conspiração de Carthage], referente ao tribunal e assassinato de Joseph Smith em 1845. Tínhamos várias fontes da ata do tribunal, alguns dos manuscritos levavam o nome do escrivão e outros não. A ata mais completa não tinha firma, mas devido ao fato de tê-la achado no escritório do Historiador da Igreja, tínhamos certeza que eram da autoria de George Watt, o escrivão oficial da Igreja que foi mandado a Carthage para gravar os trâmites do processo. Por isso em sete rascunhos do livro atribuimos a autoria a ele e analizamos todas as demais fontes baseando-nos naquela suposição.
Finalmente o livro ficou pronto e dentro de poucas semanas mandaríamos o manuscrito final à editora. Ao sentar no meu gabinete na BYU num sábado à tarde, senti-me impelido a examinar o monte de livros e panfletos ainda não lidos acumulados na mesa atrás da minha escrivaninha. No fundo de uma pilha de cinqüenta a sessenta publicações encontrei um catálogo impresso relacionando o conteúdo do Museu de Wilford C. Wood, o qual o Professor LaMar Berrett, o autor, tinha-me enviado fazia um ano e meio. Ao folhear rapidamente as páginas do catálogo de manuscritos históricos da Igreja, vi uma página que descrevia o manuscrito da ata do tribunal que havíamos atruibuido a George Watt. Porém o catálogo contou que Wilford Wood comprara a ata original no Estado de Illinois e dera à Igreja a versão dactilografada que obtivemos do historiador da Igreja.
Visitamos, de imediato, o Museu Wilford Wood em Woods Cross, Utah, e obtivemos mais informações que confirmaram que aquela ata que pensávamos ser uma fonte oficial da Igreja, na verdade fora preparada por um dos advogados que defendeu o Profeta. Com este conhecimento voltamos ao escritório do Historiador da Igreja e pudemos localizer pela primeira vez a ata oficial e muito autêntica do tribunal feita por George Watt. Este descobrimento fez com que não fizéssemos um erro grave na indentificação de uma das fontes documentárias principais e por isso pudemos melhorar de modo expressivo o conteúdo do livro. A impressão que recebi naquele dia no meu escritório e um exemplo precioso da forma de o Senhor nos ajuda nas atividades justas até da nossa profissão quando somos dignos de receber as impressões de seu Espírito.


Tive outra experiência especial com a revelação impelente poucos meses depois de assumir a presidência da BYU. Como presidente novinho e inexperiente tive que analizar muitos problemas e fazer muitas decisões. Eu dependia muito do Senhor. Num dia em outubro fui de carro ao canyon de Provo para ponderar certo problema. Embora sozinho e sem interrupções não conseguia pensar no problema. Outro assunto pendente que eu não estava ainda a fim de considerar queria entrar na mente à força, o de modificar o calendário letivo da BYU para completar o semestre de outono antes do Natal.


Depois de dez a quinze minutes de não poder tirar este pensamento da mente, reconheci o que estava passando. O assunto do calendário não me parecia urgente e, portanto, eu não buscava orientação a seu respeito, porém o Espírito queria comunicar a respeito deste assunto. De imediato, focalizei a atenção nesta questão e comecei a escrever os pensamentos num papel. Dentro de poucos minutos escrevi os detalhes de um calendário letivo de três semestres e suas vantagens poderosas.
Apressando-me para voltar ao campus, discuti a proposta com os colegas e estes ficaram entusiasmados. Poucos dias depois a Junta Diretora aprovou a proposta do novo calendário e publicamos as datas bem na hora para fazê-las efetivas a partir do semestre de outono de 1972. Depois daquela época li estas palavras do Profeta Joseph Smith e reconheci que tive a experiência que ele descreveu: “Pode-se tirar grande proveito em reconhecer a primeira impressão do espírito da revelação; por exemplo, quando se sente a inteligência pura dentro de si, ela pode, de repente, revelar idéias . . . e assim, através de aprender acerca do Espírito de Deus e compreendê-lo, pode-se crescer até adquirir o princípio de revelação.”


Acabo de descrever oito propósitos, ou tipos, diferentes de revelação: 
(1) testificar, (2) profetizar, (3) consolar, (4) elevar, (5) informar, (6) restringir, (7) confirmar e (8) impelir. 
Cada um deles se refere à revelação que se recebe. Antes de concluir, apresentarei umas idéias a respeito de revelações que não se recebem.


Primeiramente, devemos entender aquilo que se chama o princípio da “responsabilidade quanto à revelação.” A casa do Nosso Pai Celestial é uma casa de ordem onde seus servos são ordenados a “agir no ofício para o qual for designado” (D&C 107:99). Este princípio se aplica à revelação. Somente o Presidente da Igreja recebe revelação para guiar a Igreja toda. Somente o presidente de estaca recebe revelação para a orientação especial de uma estaca. Quem recebe a revelação para a ala é o bispo daquela ala. Para a família é a liderança do sacerdócio da família. O líder recebe revelação para a sua área de responsabilidade. O indivíduo pode receber revelação para guiar sua própria vida.


Mas quando alguém alega ter recebido uma revelação para outra pessoa fora de sua área de responsabilidade-tal qual um membro da Igreja que alega ter recebido revelação para guiar a Igreja inteira, ou uma pessoa que alega ter recebido revelação para alguém sobre o qual não tem autoridade, conforme a ordem da Igreja-podem ter certeza que tais revelações não são do Senhor. “São sinais falsificados.” Satanás é o grande enganador e é a fonte de algumas destas revelações não verdadeiras. Outras são imaginadas.
Se a revelação ocorre fora dos limites de sua responsabilidade específica , os irmãos sabem que não é do Senhor e não são obrigados a segui-la. Sei de casos em que um homem fala para uma mulher que ela deve-se casar com ele porque ele tinha recebido uma revelação que ela seria sua companheira eterna. Se esta for revelação verdadeira, será confirmada diretamente à mulher, se ela procurar saber. Neste meio tempo ela não tem nenuma obrigação de obedecer. Ela deve procurar sua própria orientação e fazer sua própria decisão. O homem pode receber revelação para guiar suas próprias ações mas não pode, propriamente dito, receber revelação para controlar as ações dela. Ela está fora de sua jurisdição.
E que tal aquelas vezes que procuramos revelação e não a recebemos? Nem sempre recebemos inspiração ou revelação quando a pedimos. às vezes a resposta demora e às vezes o Senhor nos deixa seguir nosso próprio juízo. Não podemos forçar o espírito. Tem que ser assim. O propósito desta vida, o de obter experiência e desenvolver nossa fé, seria frustrado se Nosso Pai Celestial dirigisse todos os nossos atos, até os atos mais importantes. Devemos fazer decisões e arcar com as conseqüências a fim de desenvolvermos a auto-suficiência e a fé.


Até nas decisões que achamos muito importantes, às vezes não recebemos uma resposta a nossas orações. Isso não quer dizer que nossas orações não fossem ouvidas. Só significa que oramos a respeito de uma decisão que, por um motivo ou outro, devemos fazer sem a orientação de revelação. Talvez tenhamos pedido orientação em escolher entre alternativas que sejam igualmente aceitáveis ou igualmente inaceitáveis. Acredito que não há uma resposta certa ou errada para todas as perguntas. Para muitas perguntas só tem duas respostas erradas ou duas respostas certas. Deste jeito uma pessoa que busca orientação sobre qual dos dois caminhos ela deve seguir para vingar-se de alguém que a ofendeu provavelmente não vai receber uma revelação. Tampouco uma pessoa que procura orientação sobre uma escolha que nunca terá que fazer devido à intervenção de algum evento no futuro, tal como uma nova alternativa obviatmente mais viável. Certa vez minha esposa e eu oramos fervorosamente para receber inspiração sobre um assunto que nos parecia muito importante. A resposta não veio. Tivemos que proceder segundo nosso próprio juízo. Não pudemos imaginar por que o Senhor não tinha-nos socorrido nem com uma confirmção nem uma impressaõ refreadora. Mas dentro de pouco tempo soubemos que não era mais preciso fazer a decisão a respeito daquele assunto, pois havia surgido algo que tornou a decisão desnecessária. O Senhor não nos guiou em fazer uma escolha que já não importava.
Não é provável que venha uma resposta a quem busca orientação em escolher entre duas alternativas igualmente aceitáveis ao Senhor, pois às vezes podemos servir de forma produtiva em qualquer das duas áreas de atuação. As duas respostas estão certas. De igual modo, o Espírito do Senhor provavelmente nãos nos dará revelações acerca de assuntos triviais. Certa vez numa reunião de testemunhos ouvi uma mulher louvar a espiritualidade de seu marido, dizendo que ele apresentava todas as perguntas ao Senhor. Ela contou como ele a acompanhava ao fazer compras e nem escolheria entre duas marcas de legumes enlatados sem orar a respeito de sua escolha. Isto me parece inapropriado. Acredito que o Senhor espera que usemos a inteligência e a experiência que Ele nos deu para fazer este tipo de decisão. Quando um membro pediu conselhos ao Profeta Joseph Smith a respeito de certo assunto, o Profeta declaraou: “é uma coisa pesada indagar aos pés de Deus ou entrar na sua presença: e sentimo-nos receosos em nos aproximar dEle a respeito de assuntos de pouca importância.”


Naturalmente nem sempre podemos julgar o que é trivial e o que não é. Se o problema parece de pouca importância, devemos proceder à base de nosso próprio juízo. Se a escolha for importante, devido a motivos que desconhecemos, como o foi meu convite para fazer um discurso, a que já me referi, ou a escolha entre duas latas de legumes. Se uma das latas contiver veneno, o Senhor intervirá e dar-nos-á inspiração. Se uma escolha for fazer uma diferença muito importante em nossa vida-óbvia ou não-e se estivermos em sintonia com o Espírito e estivermos procurando orientação, podemos ter certeza que receberemos a inspiração necessária para alcançar nossa meta. O Senhor não nos deixará desamparados quando a escolha for importante para nosso bem-estar eterno.

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